sábado, 25 de dezembro de 2010

MEU PAI

Cavaleiro que passas nesta estrada
Seguindo pelo rumo do riacho,
Olha à esquerda e vê logo adiante
Modesta casa um pouco mais abaixo.


Vês por acaso um velho à janela?
É calvo, triste, de olhar cansado.
Tem quinze filhos que o amam muito,
Entretanto te parece abandonado?


Todos os que passam nessa estrada
Vêem o velho, a casa, a janela...
Nada muda.
Às vezes até parece uma miragem,
É como um quadro de real pintura.


E o velhinho ali embelezando a paisagem.


Olhar cansado, mas atento a tudo,
Olha daqui, olha dali,
Até parece uma sentinela.
E suas mãos trêmulas seguram
Os beirais inquebrantáveis da janela.


Sentado ali ele passa horas e horas
Longo demais lhe parece o dia.
Até que as estrelas azuis do firmamento
Reluzem cintilantes e a noite se anuncia.


O seu olhar comtempla o céu distante
E sua alma um pouco se alivia,
Talvez pensando naquela tarefa
Que arduamente mais uma vez cumpria.


Seu sentimento puro, verdadeiro
Nunca definido por ninguém,
Sua obsessão por estar junto à janela
Davam à impressão que esperava por alguém.


Vi muitas vezes e me comovi:
A alegria no seu rosto se estampava
Queria se levantar mas não podia,
Quando notava que na estada poeirenta,
Um de seus filhos mais uma vez surgia.


Cavaleiro que passas em teu cavalo,
Certamente não vês a mesma paisagem,
Daquele quadro foi retirada, de repente,
A mais querida e importante imagem.


Ouve agora e depois em teu cavalo,
Que no caminho a trotar-se vai,
Aquele humilde velho da janela
Não era um estranho para mim,
Era o meu pai.


Saudade confundida com ternura
Dentro de mim se explodem amargas como fel
Meu Deus,
O meu velhinho que ficava sempre à janela,
Vós me roubastes e levastes para o céu?

(Maria Wanda Mascarenhas Fraga)